Na foto, da esquerda para a direita: Lima Duarte como Sinhôzinho Malta, Regina Duarte como Viúva Porcina e José Wilker como Roque Santeiro. Telenovela produzida pela Rede Globo e exibida no Brasil de junho de 1985 a fevereiro de 1986.
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Hoje, sábado chuvoso, resolvi abrir umas pastas com papelada de minha mãe. Desde que ela faleceu ando aos pouquinhos selecionando, excluindo e guardando sua papelada. Mamãe havia sido uma grande fã da telenovela Roque Santeiro, e guardara provavelmente porque gostava tanto da novela um recorte do jornal português O Jornal ( 10/01/1988) de quando a novela passava naquele país. Vou reproduzi-lo aqui para mostrar como essa produção televisiva influenciou o ritmo daquele país.
Como ver “Roque Santeiro”
Muita gente da classe alta e média que deixou de ver telenovelas brasileiras voltou a retomar o hábito com “Roque Santeiro“. Os efeitos de tal visão só podem ser benéficos, sobretudo em alguns dos nossos políticos e intelectuais, bem precisados de lições do “sentido do ridículo“. mas como é que alguns dos nossos líderes de opinião ou autarcas podem continuar a fazer determinados discursos, vendo o professor Astromar?
A mensagem que Dias Gomes criou para ser encenada em Asa Branca atravessa o Atlântico e assenta como uma luva a tantos dos nossos amigos e amigas — e, reconheçamo-lo, às vezes a nós próprios.
Mas não é verdade que, em Portugal, alguns dos maiores admiradores de Eça ou Fialho foram precisamente aqueles que eram atingidos pela sátira mordaz?
Não se caia, portanto, no pecado de dissertar sobre esse incomensurável lugar-comum do poder da televisão.
Mas não é que nos cafés portugueses se ouve já rir com essas gargalhadas alarves de Sinhôzinho e se vêem os tiques do seu sacudir de braço?
“Roque Santeiro” teve, há tres anos, um enorme impacto no Brasil. Também em Portugal, mesmo nas grandes cidades, muitos indiferentes das telenovelas querem já chegar mais cedo à casa para não perder as birras da viúva Porcina, os delírios do Beato Salu, as cenas de ciúme de Zé das Medalhas.
Libelo contra o puritanismo cínico (“vícios privados, virtudes públicas“) como se vai confrontar em Portugal a ironia cáustica e divertida de “Roque Santeiro” com uma certa moralidade conservadora e hipócrita que parece crescer neste país de humor tão próprio que fracassa geralmente quando expresso em público?
Neste Portugal onde ainda há poucos dias houve um linxamento popular pelo receio de bruxaria, no país de Santa da Ladeira, do Padre Cruz — com que olhos vêem “Roque Santeiro” esses cidadãos que não são das classes “blasées” alta e média alta?
E já agora perguntamos: “Estou certo ou estou errado?”
Em: O Jornal, Lisboa, 10 de janeiro de 1988, Página: ESCOLHAS, Coluna: Tendências.
Mercado Roque Santeiro, Luanda. Foto do blog: Angola Bela, www.angolabelazebelo.com
NOTA da Peregrina: Essa novela foi exibida também em Angola, onde sua influência pode ser sentida até hoje, já que deu o nome de Roque Santeiro ao grande mercado ao ar livre em Luanda.







saudades dessa novela , quando eu tinha 5 anos eu imitava a viúva Porcina, eu pegava os brincos da minha mãe, pegava fita, baton, parece que foi ontem, eu falando eu sou Porcina, é eu gostava, é para homenagear, vou cantar um pedacinho da música, dona! dona! da minha vida